As cores que este espelho sujo reflecte
Não dizem quem sou.
Mostra apenas os meus sonhos,
Que um dia alguém sujou.
No meio dos estilhaços, fiquei cego.
Cortei-me vezes sem conta,
Sangrei tudo o que havia para sangrar
De dentro do meu ego.
Já não era eu!
Era alguém mutilado pelos sentimentos
De alguém, que eu não sabia o nome,
De alguém, a que deram o nome,
Ninguém.
Como pude, eu, ter sido vítima de mim?
Julguei verdades que me escorriam pelos lábios,
Com aquele sabor amargo, que só o sangue tem.
Pensei em mentiras que um dia tinha visto
Mas agora, vejo tudo vermelho.
Eu sou ninguém!
E que ninguém sou eu?
Se sou ninguém é porque sou algo,
Mas ninguém não é nada,
Logo é alguma coisa.
Por muito sangue que volte a cair de mim
Não deixarei de ser algo.
Por todos os espelhos que parti
Não vou deixar de sentir algo.
Algo é nada.
Mas se nada é alguma coisa,
Então eu um dia poderei ser alguém, que ainda não foi nada.
Tiago Mindrico
17/03/2012